19 jul
Marcelo Frizon
Anônimo
Acho que vai ser inevitável e queria saber como é.
19 jul
Anônimo
Dizem que o melhor momento da aula dele é quando acaba
24 jul
Anônimo
Nossa, que incentivo!!
30 jul (6 dias atrás)
Rosa Elemental
Não tive aulas com ele.
Mas os comentários que ouvi nos dois últimos semestres me fizeram não querer experimentar.
15:42 (6 horas atrás)
Anônimo
Eu até gostei
Muito melhor do que aturar o seboso do Fischer ou as taradices do Seben. O Frizon dá muitos textos críticos interessantes. Se quiser se dar bem, vá ler os livros, porque ele não dá nada mastigado, não escreve no quadro e não contribui muito para possíveis anotações. Eu diria que ele é mais um orientador do que um professor, do estilo “quer aprender? Se vira!”.
Os comentários acima foram retirados de uma comunidade do Orkut chamada Professores – Letras / UFRGS. Alguns colegas meus andam irritados com ela. O dono da comunidade respondeu sabiamente a um desses comentários e o reproduziu na comunidade.
O Orkut, como diversos outros serviços da Internet contemporânea, tem ferramentas que podem ser muito úteis, como poder reencontrar amigos, não esquecer datas de aniversário e criar comunidades sobre qualquer assunto. E como estamos num país livre, todo mundo tem o direito de criar uma comunidade assim. Só acho uma pena que os comentários anônimos são permitidos. Eu sou da opinião de que cada um deve dar a cara pra bater quando está defendendo seus argumentos. Dos cinco comentários acima, apenas um está assinado, de uma pessoa que não teve aula comigo. De qualquer forma, eu não responderia a nenhum dos comentários. Não acho que eu deva me meter.
Criticar professores é uma prática muito comum entre os alunos. Aliás, é uma prática comum também entre os próprios professores. Quando eu era estudante no colégio e na UFRGS, era comum discutirmos a qualidade da aula e também, especialmente na universidade, vermos professores questionarem o método de seus colegas. Acho que é algo que deve ocorrer em qualquer profissão, no final das contas.
Mas o que eu queria registrar sobre o assunto não é isso.
Nenhum professor tem (ou pelo menos não deveria ter) a ilusão de que vai agradar todos seus alunos. Num curso como a Letras, onde estamos formando professores (além de bacharéis — e muitos destes acabam tornando-se professores), isso é pouco debatido. Aliás, é algo pouco debatido também nas cadeiras da Educação. Aí cabem duas perguntas: 1) como tornar a aula mais interessante pro aluno? No fundo, só se descobre isso na prática, ou seja, dando aula. 2) um curso de licenciatura transforma realmente o graduando em professor? Hummm… Essa é uma resposta difícil. Ajuda, certamente. Mas eu compartilho da idéia do mestre Paulo Guedes: a formação de um professor é determinada pela experiência que esse futuro professor teve com seus professores. Em outras palavras, todo professor aproveita para a sua própria formação (às vezes de maneira inconsciente) a forma de conduzir uma aula com os professores que lhe formaram, inclusive os maus professores.
O objetivo de todo professor ao ministrar suas aulas deve ser ensinar bem e de maneira interessante. Em outras palavras, o professor precisa tocar seus alunos. Pode parecer um comentário piegas, mas é por aí. E no momento em que um professor consegue tocar um aluno, apenas um, ele já sente que cumpriu seu dever. Pode parecer mediocridade, mas não é, especialmente se pensarmos que estamos num país onde educação de qualidade é privilégio de poucos e mesmo entre esses poucos são pouquíssimos os que valorizam realmente a educação. Isso ocorre inclusive na universidade.
Pra ilustrar o argumento: eu costumo contar em aula a história de um colega que se formou comigo na Letras da UFRGS (eu na Licenciatura, ele no Bacharelado) orgulhando-se de não ter lido nada durante o curso todo. Pode parecer absurdo ou impossível, mas não é. Gente medíocre e malandra existe em qualquer lugar. É claro que essa pessoa acaba se tornando um péssimo profissional e que o mercado de trabalho vai acabar ejetando esse tipo de gente. (No caso do meu colega, confesso que não sei o que ele está fazendo.)
Eu mesmo admito que não soube aproveitar bem a maior parte das aulas que tive na universidade. Eu entrei lá muito jovem, imaturo, inexperiente, e foi ela que me ajudou a crescer. No primeiro semestre, tive aulas com a professora Bina Maltz, na disciplina que hoje é a Literatura Brasileira A (conteúdo: do descobrimento do Brasil ao fim do Romantismo). A Bina falava muito, não gostava de ser interrompida, e ficava sempre sentada. Quando alguém queria participar, ela dava espaço, mas aproveitava apenas o que realmente valia a pena. Os comentários imbecis eram praticamente ignorados, o que fazia com que não ficássemos com a impressão de que ela estava sendo agressiva ou deselegante. Alguns semestres depois, fiz, novamente com a Bina, Literatura Dramática Brasileira (uma cadeira sobre a produção de literatura teatral no Brasil). Quanta diferença! O problema do primeiro semestre logicamente não era a Bina, era eu, que não conseguia ainda acompanhar o raciocínio dela, seu ritmo e, principalmente, uma discussão realmente teórica sobre Literatura, visto que no colégio as noções de Teoria da Literatura são muito superficiais (e não precisa ser diferente, pelo menos não muito). Eu era um jovem saindo da adolescência. Não sabia nada da vida. Entrei na Letras porque gostava de Português e Literatura, porque gostava de ler, mas não imaginava o que teria pela frente. A Bina acabou revelando-se uma das melhores professoras que tive.
Através de uma ferramenta do Portal do Servidor da UFRGS, temos acesso a comentários dos alunos a respeito das aulas do semestre. Os comentários são opcionais, escreve quem quer (e normalmente os alunos que gostaram da cadeira não se manifestam). Além disso, lá são obrigatoriamente anônimos, pelo menos é o que parece, e acho que ali deve ser assim mesmo, já que é um espaço oficial para comentar as aulas do semestre e é algo que não é público, ou seja, ninguém além do próprio professor vai ler o que seus alunos comentaram — aliás, às vezes nem o próprio professor lê — porque o objetivo ali é unicamente sugerir melhorias e elogiar as qualidades da aula de cada professor. Por isso tudo, então, reproduzo alguns trechos que lá estão a respeito das minhas aulas do semestre passado:
1) No início eu achei a quantidade de leitura exagerada. Depois, além de ter dado conta de tudo, achei que realmente não tinha como ser diferente…
O Professor Marcelo é muito interessado e dedicado. Foi um prazer ter aula com ele.
2) Demonstrou durante todo o semestre não estar preparado para dar aulas. Sua didática é muito pobre no que tange a disciplina. Faltava motivação, entusiasmo, sendo que muitas vezes até um desencorajamento na leitura das obras. Não consigo entender como um professor deste nível consegue ser aprovado por um processo e venha a dar aulas na UFRGS. Os conteúdos, ou melhor, a falta de conteúdos das aulas eram compensados por uma prova muito bem elaborada, mas que estavam em discordância com o que foi visto.
3) (…) Outro assunto que deveria ser evitado é a respeito do ensino de Literatura no Ensino Médio. Ainda que a maioria dos alunos de Lit Bra C seja de Licenciatura, esse espaço é para se tratar de LITERATURA. O resto vai ser discutido no lugar certo, que é a FACED, nas disciplinas que existem exatamente para isso. Quem é do Bacharelado não precisa acordar cedo para chegar na aula e ouvir 30 minutos de discussão sobre algo com o qual simplesmente não se importa.
É interessantíssimo como um mesmo professor pode gerar comentários tão díspares como os acima, especialmente os dois primeiros. Com relação ao terceiro, acho que vale a pena refletir um pouco.
Infelizmente, a Faculdade de Educação da UFRGS (FACED) não têm especialistas no ensino de Literatura. Aliás, não têm especialistas no ensino de nenhuma licenciatura. A discussão por lá é mais teórica, focada no processo didático, no ensino-aprendizagem, nas teorias da educação, etc. Se os professores de Literatura não discutirem o ensino de Literatura, quem o fará de maneira decente?
E um bacharel que não se interessa pelo assunto deve ser um bacharel parecido com o meu colega que não leu nada durante o curso. Afinal, o trabalho do bacharel, o trabalho do tradutor e do intérprete depende da educação. Se não discutimos o ensino de Literatura, não temos ferramentas suficientes para dar aulas sobre o assunto e acabamos formando leitores medíocres ou nem acabamos formando leitores, o que torna o trabalho dos bacharéis completamente inútil, afinal ninguém leria o que foi traduzido porque ninguém teria interesse. É por causa de um argumento como esse (terceiro) que a profissão de Bacharel em Letras não é regulamentada (pra quem não sabe, qualquer pessoa pode traduzir um livro, por exemplo, porque a legislação brasileira não obriga que o profissional seja formado em Bacharelado em Letras, e isso é uma das grandes tristezas dos bacharéis, é algo que sempre é pateticamente comentado pelos oradores nas formaturas — é claro que se a legislação mudasse o Brasil perderia pelo menos 80% dos seus melhores tradutores). Eu costumo dizer pros meus alunos que ser um médico é muito bom, mas ser um médico culto é muito melhor. O mesmo vale pros bacharéis em Letras.
Pra finalizar, pelo menos por enquanto, é muito bom ser o centro das atenções. Confesso que, depois de dois semestres dando aulas na UFRGS, eu já estava um pouco frustrado por não ter visto meu nome circular na famigerada comunidade (famigerada para alguns colegas, claro).